Sábado, Maio 4, 2024
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As eleições na Argentina: El ultimo tango

Hoje se realiza uma das mais importantes eleições da história da Argentina. Todas as pesquisas indicam a vitória do histriônico candidato de extrema direita Javier Milei. Eu sempre fui avesso a nomenclaturar o desastre político e institucional ocorrido no Brasil em 2018 como “bolsonarismo” porque esse fenômeno nunca foi uma criação do Bolsonaro. Essa ideia  de uma autocracia como forma de poder guiado pela não política é uma estratégia de dominação das democracias sul americanas uma vez que o mundo não tolera mais ditaduras. Milei é apenas mais um produto da mesma onda extremista que vem flertando no imaginário popular em países com economias fragilizadas. A busca por um salvador da pátria ainda é um anseio generalista. Milei surge com os mesmos trejeitos do outsider daqui. Oriundo do baixo clero, verborrágico, espalhafatoso e se auto denomina como liberal libertário. Promete acabar com o Banco Central e migrar a moeda local do Peso para o Dólar. Só essas duas promessas de campanha já mostram que a última coisa que sua plataforma trará será liberdade.

Milei ocupa um espaço que a política argentina tradicional deixou vazio, o dos corações e mentes do cidadão comum. Ele usa uma linguagem popular, anda pelas ruas abraçando as pessoas e se colocou como o representante do povo inimigo do sistema que o oprime. Mas o que está por trás do discurso caloroso de Milei? A resposta é simples: o mais puro populismo.

Quem vê a peça publicitária de Milei, o vê sendo descrito como alguém que odeia a política, que é um exímio entendedor de economia, cita literaturas ultrapassadas como a de Von Mises como se fosse a sua Bíblia para cidadãos que só querem saber de quanto irão precisar pra comprar o pão no dia seguinte. O mais interessante é que você vê o chamarem de “Mi Capitan”, o vê falando de patriotismo, família e de que ele sentiu um chamado de Deus. 

Não! Não são coincidências ! É o mesmo escopo que levou Trump e Bolsonaro ao poder e que, surpreendentemente, tirou a Inglaterra da União Européia. É o mesmo escopo que está levando ao poder líderes de extrema direita cada vez mais submissos aos interesses do grande capital. 

A eleição de Milei colocará um outdoor gigantesco sobre a Argentina com um anúncio escrito FOR SALE! As perdas institucionais serão sem precedentes e trará instabilidade às negociações multilaterais que ainda mantém o Estado argentino funcionando. Com isso, ficam as perguntas: A quem interessa? Quem é o verdadeiro dono de Javier Milei? Pois é, o povo argentino terá que se arriscar descobrindo que a Lei de Murphy é implacável. Mas, como diz o sábio: “As vezes é preciso piorar as coisas antes de melhorá-las.” 

Que seja tocado o tango de Milei! Por enquanto ele é o Ovo da Serpente. Ao final do dia, saberemos se eclodirá ou se permanecerá no ninho. A parte positiva de Milei é que, querendo ou não, vencendo ou não, Milei já mexeu nas estruturas da tradicionalíssima política do seu país e que jamais será a mesma depois dele. O que vai reger esse tango será a democracia. Agora se ela sobreviverá depois, só Deus sabe. Porém, hay que endurecer-se! Pero sin perder la ternura jamás!

Por Mardonio Gomes