Sábado, Abril 27, 2024
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A POLÍTICA E A RETÓRICA DO MEDO

A cidade exala medo. É nítido nos olhos das pessoas o receio de perderem seus empregos, seus sustentos e sobretudo, a  dignidade. O rolo-compressor chamado polarização já não permite mais a desfaçatez da ameaça como cláusula de contrato nas relações entre as pessoas. As justificativas são as mais diversas para justificar atos dos mais controversos possíveis. 

Pessoas que passaram a vida lutando por uma educação melhor agora passaram a militar em favor de projetos de poder de políticos que têm como plataforma pessoal o desmonte da educação pública. A justificativa é de que é apenas o seu trabalho e que a pessoa precisa comer. Pessoas que jamais aceitariam humilhações, ou mesmo, situações  vexatórias em público estão  sendo reduzidas a restos ou animalizadas pela uberização da mão de obra quietas. A grande maioria sequer, buscam seus direitos sob a justificativa de que é o que tem e se perder, perde também a fonte de sustento. E isso está acontecendo  em todas as áreas, onde pessoas usando de poder, influência e dinheiro para escravizar outras pessoas. 

Muitos de vocês podem dizer que isso sempre existiu e que sempre foi assim. Pois é, não foi não. Já houve um tempo em que o cidadão mais comum tinha dignidade. Os valores que ele recebia de seus pais ou tutores eram defendidos e passados a seus filhos e netos. As pessoas se reuniam em assembleias para defenderem seus direitos e não havia linha direta entre o dono do trabalho e o dono da força de trabalho, pois o que valia para um, valia para toda a categoria. O que os novos Senhores de Engenho do século XXI vendem para o cidadão comum como liberdade ( e que ele compra e defende como tal ), na verdade é a oportunidade de entrar em uma arena e digladiar-se com os seus por sua própria subsistência. O cidadão comum está condicionado à disputa ao invés da competição. 

Ética, Moral, Bem comum, Lealdade, Justiça, dentre outros valores antes citados como pétreos nas convenções sindicais, hoje são encontrados apenas nos livros de filosofia com linguagem rebuscada restritos apenas aos acadêmicos e na Bíblia. Assim dá pra entender porque tantos líderes religiosos se aproximaram de “Deus” e sob seu nome, acumularam tanto poder. E quem está mais próximo do povo? Os livros da biblioteca da universidade ou da ABL, ou a Bíblia Sagrada? Pois é. E quem é louco para se atrever a discutir ou discordar da palavra de Deus nos dias de hoje não é mesmo? 

Com esse cenário de Santa Inquisição ideológica, caminhamos à beira do paradoxo entre o que chamam de liberdade e o anacronismo social da Idade das Trevas. E como tudo passa pela política, o modo mais fácil de se fazer dominar é impor sob ela o medo. Uma ótima semana a todos!

Por Mardônio Gomes