Em um período de seis anos, a GAS Consultoria, empresa do ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos — preso desde o fim de agosto e réu, ao lado de outros 16 comparsas, por crimes contra o sistema financeiro nacional, entre outros delitos —, movimentou o exorbitante montante de R$ 38 bilhões, conforme consta em documentos fornecidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF). Contudo, apesar de ter captado junto aos clientes um valor que chega a superar o Produto Interno Bruto (PIB) de vários países, o grupo mantinha métodos arcaicos no controle de suas finanças. A precariedade era tanta que, durante a Operação Kryptos, que desbaratou a organização, agentes chegaram a apreender, na sede da empresa, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, um caderno de anotações escrito à mão com informações como nome, CPF ou CNPJ e tamanho do aporte feito por cada investidor. No papel margeado, similar a qualquer material escolar antigo e reproduzido na denúncia contra a quadrilha, obtida pelo EXTRA, eram oficializados até mesmo repasses superiores a R$ 300 mil.
Para os investigadores, a ausência de requinte contábil não se dava ao acaso. Os policiais e promotores acreditam que a empresa de Glaidson, conhecido como “faraó dos bitcoins”, adotava como estratégia a falta de clareza ao atuar para mascarar o fato de que, ao contrário do que assegurava aos interessados no lucro garantido de 10% ao mês, muito maior do que o de qualquer outra aplicação legítima disponível no mercado, os rendimentos não eram oriundos de investimentos em critptomoedas.