PETRÓPOLIS – Apesar de contar com toneladas de doações de alimentos e roupas, muitas famílias seguem tendo dificuldades para ter acesso, principalmente a comida, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. São as vítimas indiretas da tragédia das chuvas na cidade, gente que não sofreu perdas familiares ou materiais, mas que perderam emprego ou outras fontes de renda e se viram em situação de vulnerabilidade social passadas mais de duas semanas do temporal.
As doações que chegam à cidade ficam sob controle das equipes da Prefeitura e do governo do estado que atuam no auxílio às vítimas. Nesse momento, apenas os desabrigados e as pessoas que perderam familiares estão recebendo todo material enviado, distribuídos em abrigos ou pontos de apoio. Para isso, os beneficiados apresentam documentos que atestem a situação de vulnerabilidade, por exemplo, laudo da Defesa Civil comprovando a destruição das casas ou o cadastro de pessoas abrigadas.
A dona de casa Bruna Assis não tem nenhum destes documentos. Moradora da Quitandinha, ela não perdeu familiares e não teve o imóvel afetado pela chuva. No entanto, a casa onde trabalhava como doméstica foi destruída em um deslizamento e ela perdeu a fonte de renda com a qual sustentava a família.
Sem dinheiro para comprar comida e sem acesso às doações enviadas à cidade serrana, pois não se enquadra nos critérios estabelecidos, ela acordou nesta quarta às 4h e, com duas vizinhas, se dirigiu ao Clube Petropolitano, onde uma organização não-governamental (ong), com auxílio do governo estadual, distribui cestas básicas sem determinar restrições.
— Espero conseguir pegar uma cesta aqui porque é onde podemos pedir sem ter de apresentar laudo da Defesa Civil ou outro documento. A casa onde eu trabalhava caiu e fiquei sem emprego, tendo duas filhas para alimentar — contou Bruna.
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Desempregada, a dona de casa Yane Chaves também madrugou para ser uma das primeiras da fila e conseguir uma cesta básica. Sem ter com quem deixar a filha, a bebê Anne, de apenas dois meses, ela chegou no Petropolitano às 5h e teve de aguardar até as 10h40, boa parte do tempo sob sol para conseguir uma senha para a retirada dos alimentos.