A folia dos reprimidos mostra o que já sabíamos que iria acontecer: o luto da pandemia passou! Tudo nos é lícito pois é carnaval! Nossos olhos estão fechados para os acordos espúrios e para os métodos de controle social empurrados garganta a baixo enquanto bailamos incautos ao som das marchinhas sob chuvas de confetes e serpentinas. Ah que delícia viver na democracia liberal brasileira! Nada funciona mas está tudo bem. A social democracia tão questionada e ameaçada nos últimos quatro anos, enfim, está segura e assegurando que a elite use o Estado como mantenedor dócil de suas regalias e assegurando que sua demanda de mercado de mão-de-obra esteja sempre garantida.
A cada vez que o presidente abre a boca para dizer que quer que o povo trabalhe pra “comer bem, vestir bem, morar bem e viajar com a família”, o mercado reage, a bolsa cai e o dólar sobe. Um sincronismo quase que teatral numa retórica que insiste em dissociar o indissociável: o trabalhador da sua força de trabalho (o sujeito de sua moeda de troca).
O carnaval é lindo, nos traz alegria, prazer e o direito de nos comportar com a irresponsabilidade de quem abstrai as regras do contrato social a que somos submetidos. Por alguns dias, voltamos ao estado de natureza, fugimos de nós mesmos e nos abstraímos da realidade. Até o luto das 700 mil vidas perdidas pela Covid e das outras milhares por desastres naturais passa.
As marchinhas nos enebriam e saimos por horas fantasiados em meio a multidões cantando e dançando porque é isso que nos resta. Na falta do pão, que venha então o lúdico do circo! Precisamos disso para nos sentirmos humanos. Um ótimo carnaval a todos e não esqueçam de guardar dinheiro pra pílulas anti ressaca! A única coisa certa do carnaval é que, com ou sem festa, com ou sem folia, a quarta-feira de cinzas sempre chega!
Por Mardônio Gomes.