Sábado, Setembro 28, 2024
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Saiba o que pode ter motivado incêndios no Rio

Dez dias após o início de uma onda de queimadas criminosas devastar 3.489 hectares em áreas de conservação no Estado do Rio, a Polícia Civil não identificou até agora qualquer ligação entre os culpados


A Serra da Beleza foi atingida por um incêndio criminoso

A Serra da Beleza foi atingida por um incêndio criminoso — Foto: Leonardo Rocha/Monasbel

Dez dias depois de uma onda de ataques incendiários ter destruído 3.489 hectares de áreas protegidas no Estado do Rio, a Polícia Civil ainda não identificou qualquer ligação entre os autores. As investigações já levantaram os nomes de 21 suspeitos, entre eles um adolescente de 13 anos e um homem de 61, responsáveis pelo início do incêndio que destruiu 1.443 hectares de floresta na Serra da Beleza, em Valença, região do Vale Paraíba. Os crimes ambientais investigados foram motivados por disputas pessoais ou conflitos locais.

A Justiça do Rio converteu ontem a prisão temporária do tratorista Sebastião Cloves da Silva em preventiva. Imagens de uma câmera de segurança mostram o momento em que o idoso desce de uma moto e coloca fogo num matagal na beira da estrada no último dia 11. O incêndio se alastrou pelo Monumento Natural Estadual da Serra da Beleza. 

Briga e bebida

As investigações iniciais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) apontam que Sebastião teria ateado fogo após se desentender com o dono de uma fazenda da região, que fica perto da Serra da Beleza. O preso preferiu ficar em silêncio a prestar depoimento na delegacia. Testemunhas confirmaram aos agentes que Sebastião teria ingerido bebida alcoólica e ateado fogo na propriedade por vingança. Ele e o patrão já tinham um histórico de desavenças.

Em sua decisão, o juiz Marco Aurélio da Silva Adenia alegou que a prisão preventiva de Sebastião é necessária porque “mesmo no dia da detenção do custodiado, em 17 de setembro, ainda existia foco de incêndio”. Trata-se, portanto, “de crime permanente”.

O documento, ao qual O GLOBO teve acesso, afirma que o incêndio causado pelo tratorista também destruiu uma casa e um dos imóveis de uma pousada, resultando em um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão. 

A decisão também ressalta que o crime causou “danos permanentes” à região, uma vez que uma “extensa área florestal atingida deixou uma grande quantidade de animais mortos, queimados ou intoxicados pela fumaça”. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), esse foi o maior incêndio já registrado em uma área de preservação sob sua responsabilidade e o maior dos 1.456 combatidos nos últimos dias. 

Um adolescente de 13 anos foi levado, na companhia do pai, para a 106ª DP (Itaipava) no último domingo, onde admitiu ter sido o responsável por uma queimada que devastou 704 hectares de vegetação no distrito de Pedro do Rio, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O crime teria sido cometido pelo jovem após uma briga em família. Segundo o Inea, a região queimada fica no Monumento Natural Estadual da Serra da Maria Comprida. 

Na última semana, foram combatidos em Petrópolis mais de 200 focos. As chamas atingiram campos de altitude que abrigam espécies de fauna e flora raras. 

— Nesse topo do morro, existe um delta de temperatura que ajuda na sobrevivência de espécies raras. São animais que só vivem em áreas altas. Essas espécies estão cada vez mais encurraladas. A temperatura está aumentando, fazendo com que esses animais tenham que subir cada vez mais para o topo do morro, reduzindo o espaço para eles sobreviverem — disse o diretor de Biodiversidade, Áreas Protegidas e Ecossistemas do Inea, Cleber Ferreira. 

Jovens incendiários

No Vale da Montanha, em Nova Friburgo, foi um grupo de quatro jovens que deu início ao incêndio que levou pânico aos moradores das redondezas no mês passada. As chamas avançaram rapidamente, quase atingindo residências próximas. A ação criminosa foi filmada por uma câmera de segurança e circulou pelas redes sociais à época. 

Já uma disputa por terras estaria por trás de incêndios em Mangaratiba. O Quilombo das Fazendas Santa Justina e Santa Izabel levou à Polícia Civil a denúncia de que fazendeiros que são contra a presença dos quilombolas na região estariam provocando as queimadas para “assustar e intimidar quem vive ali”. Segundo o delegado Roberto Gomes Nunes, titular da 165ª DP (Mangaratiba), ao menos dois incêndios são investigados. Um deles foi em 11 de setembro na Serra do Piloto, região do quilombo, e o outro no bairro Ranchito, em agosto.

— Estamos encurralados aqui. Existe uma disputa territorial com os fazendeiros que querem expulsar os quilombolas dessa região. Eles colocam fogo em áreas de acesso muito restrito para nos deixar assustados. Enquanto eles brigam por terras e queimam as florestas, milhares de pessoas e animais ficam sem lar e alimento. Nós dependemos da floresta — disse um quilombola, que pediu para ficar no anonimato.

* Informações retiradas do portal de notícias Extra