Sábado, Novembro 16, 2024
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Mente sã, corpo são. Será?

Os desafios da psicanálise, psiquiatria e psicologia vão muito além de se provarem como ciência ou fugirem do estigma de pseudo ciência. Os paradigmas da mente ultrapassam o tratamento dos transtornos. O DSM já disponibiliza manuais para diagnósticos e tratamento dos diversos transtornos mentais, ainda que cada caso seja único.

O que parece ser uma grande virada de chave do século XXI é o fato de toda a comunidade médica na área estar se voltando para o olhar lacaniano de levar em conta paralelamente os fatores externos e internos. Os fatores que causam os transtornos podem ser superados ou seus efeitos amenizados nas terapias e nos medicamentos estabilizadores de sintomas. Mas e depois? Como mudar o mundo conturbado, opressivo, impossível, inexorável? Qual o mundo estamos criando para recolocar o paciente de forma em que ele supere o insuperável?

O pior é não cair na febre da onda do autismo, TOD, TDAH, etc. Se não houver uma regulamentação séria, a indústria de coaches de YouTube, que já movimenta bilhões, vai acabar acentuando a histeria coletiva em torno do assunto. Isso me faz lembrar há 20 anos, quando, quando o filho adoecia, o médico dizia que era virose. Hoje, qualquer produtor de conteúdo, sem qualquer compromisso com as pesquisas e estudos sérios sobre o assunto, lança diagnósticos de autismo, TOD, TDAH e afins.

O Professor da Unicamp, Mário Eduardo Costa Pereira, faz uma comparação muito pertinente com os portadores da Síndrome de Down. Disse ele: “Há 30 anos, a expectativa de vida de um Down era de 18 anos porque os médicos e a sociedade compraram a narrativa de que, com a condição biológica imutável, não havia forma de se tratar ou curar, deixando a criança numa condição condenada à morte precoce. Com o tempo, nos curamos dessa visão limitada e hoje os portadores de Down possuem uma vida inclusiva e desfrutam de uma expectativa de vida equivalente a uma pessoa sem Down.”

Estamos escravos da “Sociedade do Sucesso”. Não se pode falhar! Falhar significa fracasso, e ter fracasso é criar depressão, que leva ao ato suicida. O neoliberalismo nos força a sermos superempreendedores de nós mesmos, acabando por desenvolvermos um inimigo dentro de nossa psiquê. Ganhar dinheiro, ter sucesso, ser o melhor de todos, aparecer sempre bem nas redes sociais, produzir conteúdo está nos desumanizando, e há pessoas ganhando dinheiro com isso. Vivemos na geração mais ansiosa e deprimida de nossa época. Mas, como diz o ditado popular, “Mente sã, corpo são”. Será?

Por Mardonio Gomes