Domingo, Abril 20, 2025
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A lógica do condomínio e o controle social.

De tempos em tempos observamos os aparelhos de Estado sendo usados como controle social. Como se nós fôssemos pragas aceitáveis em uma sociedade idealizada dentro de uma lógica de condomínio onde a exceção à regra é medida com a régua implacável da força e da brutalidade para uns, e com a letra da constituição em sua forma mais maternal para outros. Pragas devem ser exterminadas, hoora com fuzis, hora com asfixia em uma câmara de gás improvisada ou simplesmente com o isolamento aos direitos básicos como comida, saúde, cidadania e dignidade. 

Trabalhador matando trabalhador em nome de uma ordem e de um progresso que perderam seu sentido até mesmo onde se fazem mais visíveis: na estampa da nossa bandeira. Ao mesmo tempo que o trabalhador médio banaliza a barbárie com alguém que está em uma condição social mais próxima de si, ele se comove com a aplicação da lei sobre aqueles que o oprimem e que fazem dele, trabalhador comum, sua marionete ideológica posando de padrão ideal de cidadão de bem. Qualquer um que ameace a paz e a tranquilidade do condomínio é notadamente uma ameaça ao sistema, e o cidadão comum, que apesar de não se enquadrar no padrão do cidadão de bem, precisa defender esse ideal de vida. Mais que isso; ele o deseja! Se projeta em uma realidade que jamais vai alcançar e culpa a si mesmo por isso. 

A lógica do condomínio consiste em aproximar os iguais e cercá-los com um muro alto e intransponível onde apenas quem for igual poderá compartilhar o mesmo espaço. A esses não é permitido incomodar, investigar, punir ou importunar. É imperativo que seja respeitada a liberdade dentro dos muros do condomínio e para que não se esqueçam disso, os aparelhos de Estado, de vez em quando, dão uma demonstração do que acontece nos guetos onde vivem os peões do tráfico, as pragas aceitáveis, os incômodos, tratando de deixar claro quem manda e como se faz para exterminar pragas indesejáveis. O Estado mostra a cada classe social como cada gueto, cada bantustão, cada favela deve cumprir seu papel na sociedade: procriem e produzam mão-de-obra barata para nos servir sem questionar ou desafiar nossas regras! Simples assim.

Enquanto isso, ricos que falam russo, árabe, francês, inglês, que usam ternos cortados em Londres, París ou Milão, que possuem contas na Suiça, Ilhas Caymã, e demais paraísos fiscais que pagam a mais alta esfera de traficantes de armas e drogas que vivem dentro dos muros do condomínio junto aos cidadãos de bem cujo o aparelho de Estado existe só e tão somente para protegê-los, negociam o armamento e a droga que a polícia apresenta como troféu após um massacre na favela. Depois disso, matar um cidadão comum sufocado dentro de uma viatura com gás tóxico na frente de todos sem nenhuma reserva de punir depois de uma sessão de tortura, pode ser visto como mero erro de conduta. Afinal, aquele homem morto não se enquadrava na lógica do condomínio. Esse erro, e apenas isso, lhe custou a vida. Mas ainda assim, haverá aqueles que o culparão pela própria morte.

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