Ao completar três meses de prisão, Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, enfrenta o abandono gradual dos clientes que exigiam a sua libertação. Após perceberem que o sonho de retomada das atividades da GAS Consultoria Bitcoins está distante, pelo menos 1 mil investidores da empresa de Glaidson já se filiaram à Associação Nacional de Clientes de Empresas de Terceirização de Cripto (ANCCripto) com o objetivo de abrir um canal de negociação com as autoridades responsáveis pelo caso, priorizando a luta pelo ressarcimento em prejuízo à campanha pela liberdade do Faraó.
O primeiro passo foi a contratação do advogado alagoano Paulo Nicholas, conhecido em seu estado por defender vítimas do Caso Pinheiro, como ficou conhecido o colapso do solo de cinco bairros superpopulosos de Maceió, provocado pela mineração de salgema. Ele disse que as indenizações negociadas com o grupo responsável pelo problema, a Braskem, começaram a ser pagas sem a necessidade de medidas judiciais. Com a GAS, cujo foco central é Cabo Frio, na Região dos Lagos, ele espera fazer o mesmo:
— Não queremos entrar na discussão se Glaidson operava ilegalmente ou não. Nosso empenho será pelos clientes, que estão sendo lesados até hoje. Uma ação judicial pode levar anos. O melhor caminho é a interlocução com as autoridades.
Paulo Nicholas, advogado
Investidores que participaram de atos de solidariedade ao Faraó em Cabo Frio e no Rio, especialmente na porta do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que negou um pedido de revogação de sua prisão preventiva, estão aderindo à associação. Uma das prioridades é agendar audiência com representantes do Ministério Público Federal (MPF), já que uma das unidades do órgão, o Gaeco Federal RJ, foi o responsável pela denúncia contra Glaidson e outros envolvidos no esquema.
— O acordo busca o desbloqueio junto ao MPF, que é quem supervisionaria a devolução do capital aos clientes. A legitimidade do bloqueio de pedido das contas se fundamenta na proteção do interesse dos clientes. Todavia, se a grande massa de clientes de une em uma associação e solicita o desbloqueio, o pedido de bloqueio perde a legitimidade
Thiago Santos, filiado a ANCCripto
— Uma ação deste tipo, normalmente, levaria cinco anos, enquanto um acordo neste modelo pode levar meses, porque se tornou um problema social no Estado do Rio, onde muitos perderam tudo o que tem. Por isso, concordei que esse seria o melhor caminho.
O movimento de ressarcimento conta com o apoio do presidente do Conselho Federal da OAB, Felipe Santa Cruz, que pediu audiências com o ministro da Justiça, Anderson Torres, com o procurador-geral da República, Augusto Aras, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir o assunto.