O roteiro é sempre o mesmo: O identitário é formado ideologicamente nos EUA e/ou pela mídia de massa, esta que por sua vez tem os seus interesses em plena convergência com o do grande Capital cosmopolita e o seu maior representante e defensor, os EUA. Isto é uma obviedade para qualquer um que conheça a história das relações internacionais contemporânea, mais particularmente uma das suas quatro dimensões, a relação cultural (as outras três são a econômica, a política e a militar).
Uma das estratégias da política cultural internacional das grandes potências é receber estrangeiros em suas universidades para que estes, depois de formados, retornem ao seu país de origem e defendam os interesses da nação estrangeira que o formou intelectualmente, integral ou parcialmente.
O estudante que viveu tal experiência e desconhece este assunto (política cultural internacional, soft power), não sabe que age a “serviço” da nação estrangeira que o formou, o formatou ideologicamente.
No que tange ao identitarismo negro, Abdias do Nascimento é um dos exemplos mais conhecidos. Depois de vários anos nos EUA, estudando e lecionando, retorna ao Brasil e torna-se um dos maiores expoentes da reverberação do identitarismo negro estadunidense.
Em nossos dias, a Anielle Franco, mesmo que sem a bagagem intelectual do Abdias, exerce basicamente a mesma função: reproduzir em nosso país, majoritariamente mestiço, a compreensão da sociedade cabível à análise antropológica e sociológica da população estadunidense, muito menos mestiça que a nossa. Isto explica a sua identificação ideológica com a sua intelectualmente infeliz assessora. Isto explica também o fato de ambas, apesar de mestiças, se crerem “negras”: alienadas à cultura estadunidense, interiorizaram, até à medula, a regra do one-drop rule.
Enquanto isso, mulheres militantes se juntam em mais de 240 signatárias dos “Partides de esquerdis” em uma carta exigindo que o presidente Lula indique ao STF para a vaga de Rosa Weber, uma mulher negra. Do outro lado da janela, se calam à entrega sem resistência dos três ministérios que eram de escolha pessoal do próprio Lula ao Centrão de Lira podendo ir de arresto a Caixa Econômica Federal de porteira fechada como brinde. Da outra janela, vê-se o congresso aprovar o assalto ao direito sagrado à terra pelos povos indígenas em total parcimônia. E, como se não bastasse, aprovarão uma PEC onde a Câmara dos Deputados ganhará poder e autonomia para reverter quaisquer decisões judiciais determinadas pelo mesmo STF. Vemos também, mas agora pela fresta da porta, o recém nomeado Ministro Zannin, pedir redução de pena para os condenados pelos atos terroristas de 8 de Janeiro. E pra fechar, veremos o tão sonhado encontro de conciliação entre Lula e o Presidente do Banco Central, Campos Neto para deleite da FIESP / Faria Lima. Isso tudo em total silêncio pois o que importa é a pauta identitária.
O Brasil que aplaude Bolsonaro, por hora inelegível, discursando impávido, no nordeste é o mesmo Brasil que aplaude o distanciamento do que a “esquerde identitárie” chama de democracia para atirar-se nos braços da mesma base bolsonarista há tão pouco tempo chamada de facista, golpista e agora chamada carinhosamente de BASE GOVERNISTA.
O slogan do governo Lula: Brasil, União e Reconstrução, está longe de ser uma reconstrução democrática e estruturante. Assim como o Lula de 2010 a 2016 criou o Bolsonaro de 2018, tudo indica que ressuscitará o Bolsonaro de 2026. Quem duvida?
Obs. Texto de Mardônio Gomes em parceria com o Doutor em História Contemporânea de La Université de Strasburg e Mestre em Historie des Relations Internationales un La Université Paris 4 – Sorbone, Militante de Esquerda em Rio das Ostras, Márcio Rodrigues.