Um roteiro condicionado para coadjuvantes obedientes onde duas protagonistas dividem o palco principal. A catarse ideológica das militâncias que polarizam a disputa presidencial parece tão contagiante a ponto de abstraí-los do real apesar de pagarem caro por seu lugar no roteiro. A história recente do jogo do poder nos põe diante duas cavernas platônicas onde, não importam as imagens que são refletidas em suas paredes, seus espectadores se recusam a olhar para outra direção.
De um lado o presidente em exercício segue com sua aposta de quebra institucional com seus discursos desconcertantes insuflando sua trupe cada vez mais sedenta de incentivos grotescos aplaudindo todo e qualquer disparate que desafie a liturgia política do cargo ao qual ocupa. Sua forma de pautar a imprensa é eficaz e não há um dia sequer em que não seja citado por todos os veículos de imprensa, sejam favoráveis a ele ou não. Com isso se mantém vivo em uma corrida longa, desgastante e degenerada, mantendo ainda uma expressiva segunda colocação nas pesquisas de intenção de voto.
Por outro lado, o ex-presidente que ainda não se comprometeu com absolutamente nada além de sua flagrante sede de vingança pessoal. Nunca se posiciona ou se expõe mais do que o necessário agindo nos bastidores negociando apoio e loteando participação em um futuro governo com antigos aliados e desafetos. Está claro e notório que, para ele, não é a governabilidade que importa, mas sim a certeza da volta ao poder. O famoso “ganhamos primeiro e depois a gente vê.” Abraçar figuras como Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Michel Temer e Geraldo Alckmin, é no mínimo bizarro pra não dizer desrespeitoso. Mas ainda assim, os moradores dos slides na parede da caverna seguem aplaudindo e pagando caro por estarem inclusos em seus papéis no roteiro.
O certo é que as campanhas partidárias estão de volta, a campanha presidencial inicia-se em menos de sete meses e as máquinas de fake news estarão mais ávidas e ativas do que nunca.
Até lá, nos resta ser bons espectadores e assistir calados e atentos ao mais bizarro roteiro já produzido pela política que muitos ainda tentam chamar de nova mas que está tão carcomida quanto seus roteiristas.
Eu, pessoalmente, prefiro lidar com políticos reais. Políticos que não usem máscara. A palavra personagem vem de “personare” quando a voz de quem fala sai através de uma máscara. Assim como nos antigos bailes da realeza francesa.
Saim da caverna! Abandonem o Truman Show! A gente merece mais do que isso!.
Mardonio Gomes, empresário.